Nascido em 27 de março de 1960 no Rio de Janeiro, Renato Manfredini Junior, mais conhecido como Renato Russo embala até hoje a trilha sonora da vida de muitas pessoas, inclusive a minha.
Líder de uma das maiores bandas de Rock Brasileiro do Século XX, Renato Russo (Russo vem de Jean-Jacques Rousseau, considerado um dos principais filósofos do iluminismo e um precursor do romantismo) fundou, em 1982, junto com o baterista Marcelo Bonfá a Mítica Legião Urbana que, para mim, junto com Capital Inicial e Plebe Rude, formam a Santíssima Trindade do Rock Brasiliense.
Dado Villa- Lobos (não é coincidência, ele é sobrinho-neto de Heitor Villa-Lobos) entrou na formação quando Ico Ouro-Preto (irmão do Dinho, do Capital Inicial), em 1983, desistiu do projeto. Renato Rocha, também conhecido como Negrete entrou posteriormente, mais ou menos quatro dias antes de começar a gravação do primeiro disco da banda. Motivo: tentativa de suicídio de Renato Russo ao cortar os pulsos, impossibilitando assim, de tocar o baixo.
Antes da Legião, Renato também tocou, junto com André Pretórius e Fê Lemos (do Capital Inicial) na banda Aborto Elétrico entre 1978 a 1981. Do repertório desta banda nasceram Veraneio Vascaína (que foi gravada no primeiro LP do Capital Inicial) e Que País é esse? (essa, não precisa de apresentações).
Uma curiosidade interessante: Não era para o Renato estar na formação original do Aborto Elétrico. Quem estava cotado para o baixo era o André Muller (que mais tarde, junto com Philippe Seabra, formaram a Plebe Rude).
As letras compostas por Renato, quando você as analisam nas entrelinhas, são muito intensas e com direito a vários tipos de interpretações. Onde se iria imaginar que a letra de Andrea Dorea pode ser interpretada como a mudança da fase de criança para a adolescência e o refrão de Índios como um possível autoflagelamento? Alguns estudiosos citam os primeiros versos de Daniel na Cova dos Leões como sendo uma experiência homoafetiva masculina... e olha, que só mencionei as músicas do disco DOIS. Temos mais sete discos de estúdio, com dez músicas em média cada...
Legionário que é legionário já chorou escutando Vento no Litoral (no meu caso, essa música remete à minha primeira gravidez): “Dos nossos planos é que tenho mais saudade... Quando olhávamos juntos na mesma direção. Aonde está você agora além de aqui, dentro de mim?” ou teve um UP na autoestima escutando Metal Contra as Nuvens: “Não me entrego sem lutar, tenho ainda coração, não aprendi a me render, que caia o inimigo então...” Também gosto muito de A Via Láctea que muitos a acham depressiva mas, na minha opinião, nem tanto, principalmente no primeiro trecho: “Quando tudo está perdido sempre existe um caminho. Quando tudo está perdido sempre existe uma luz.”
Como integrante da Legião Urbana, Renato lançou oito álbuns de estúdio, cinco álbuns ao vivo, alguns lançados postumamente e diversos contos. Gravou ainda três discos solo e cantou ao lado de Herbert Vianna (eu o considero padrinho da Legião Urbana e Plebe Rude, levando essas duas bandas a gravarem seus discos na EMI. Os Paralamas gravaram Química no primeiro LP da banda: “Cinema Mudo” de 1983 e Renato a regravou no LP “Que País é esse?” de 1987), Adriana Calcanhotto, Cássia Eller (para mim, a melhor interprete de Por Enquanto), Paulo Ricardo, Erasmo Carlos, Leila Pinheiro, Biquini Cavadão, 14 Bis (onde compôs com o mestre Flavio Venturini uma das músicas mais motivacionais que eu conheço: Mais uma vez) e Plebe Rude (quem nunca ouviu falar de um show em Patos de Minas, em 1982, não é Legionário Raiz).
Por falar em show, faço parte da história. Eu e uma amiga, ambas com 14 anos de idade, estávamos no Mané Garrincha, no dia 18 de junho de 1988, a menos de 15 metros de distância do palco, no que muitos consideram como “O show que nunca acabou”. Detalhe: Só conseguimos voltar para casa no outro dia. Sorte nossa que ao conseguirmos entrar no estádio, encontrei um amigo de infância e a gente dormiu na casa dele mas, do Mané até o Cruzeiro Novo a pé, foi chão. ônibus? Nem pensar. Quase toda a frota estava sendo depredada.
Mesmo depois do resultado (onde, na minha percepção, faltou organização de todos os lados e um atraso de 1h30 para começar e quando começou, tinha milhares de pessoas do lado de fora do estádio, além dos ânimos exaltados por todos os lados) havia um projeto da banda voltar a tocar em solo brasiliense. Pena que não saiu do papel.
Renato faleceu na madrugada de 11 de outubro de 1996 devido as complicações causadas pelo HIV e em 22 de outubro do mesmo ano, numa entrevista coletiva, Dado e Bonfá anunciaram o encerramento oficial da banda.
Em outubro de 2008, a revista Rolling Stone promoveu a Lista dos Cem Maiores Artistas da Música Brasileira, em que Renato Russo ocupa o 25° lugar, ficando à frente de grandes nomes da música Brasileira como: Mano Brown, Cazuza, Gal Costa, Ney Matogrosso, Erasmo Carlos, Zé Ramalho e Marisa Monte.
Também neste mesmo ano, foi lançado “Renato Russo - o musical” onde, o ator Bruce Gomlevsky o interpretou majestosamente (assisti duas vezes esse musical e ainda levei minha filha mais nova, com 10 anos na época, na mochila pois a censura era 12 anos), em 2013 é lançado a cinebiografia “Somos Tão Jovens” com Thiago Mendonça dando vida ao cantor (atuando e cantando) e em 2019, para comemoração aos 59 anos do cantor, os Correios lançaram o selo e carimbo em homenagem ao Renato (estive com dona Carminha em 2003, quando ela colocou em pauta essa solicitação). Além de vários livros escritos com sua biografia afinal, como sempre era escrito nos discos da Legião Urbana, exceto no “A tempestade - Livro dos dias”: Urbana Legio Omnia Vincit.
Por Fernanda Spadeolli.